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Dezesseis anos de WikiLeaks

No mês de aniversário de 16 anos do WikiLeaks, é imprescindível lembrar que a organização se tornou uma questão controversa e divisória entre as organizações de direitos civis; maioria concorda com o valor inegável que o WikiLeaks teve ao denunciar violações de direitos humanos e liberdades civis.

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Julian Assange fundou o WikiLeaks no dia 4 de Outubro de 2006, na onda da contracultura da internet e com uma herança da consciência do hackativismo. O WikiLeaks produzia dados brutos, não histórias – como e-mails pessoais de Sarah Palin (ex-candidata republicana em 2008) ou listas de membros de organizações neonazistas.

Os milhares de memorandos, telegramas e outros documentos sobre os esforços e crimes de guerra dos EUA revelados quando Assange se comunicava com Chelsea Manning para invadir um computador do Pentágono elevou o WikiLeaks a outro nível. Até hoje, muitos enxergam Assange como um herói, outros como um traidor. De qualquer forma, foi um momento inebriante. O WikiLeaks foi considerado um novo tipo de organização de notícias, alimentado pelo poder da Internet e pela democratização da informação.

Em 2013, o Departamento de Justiça de Obama se recusou a processar Assange por publicar documentos confidenciais devido ao que as autoridades descreveram como o “problema do New York Times”: como o governo poderia processar Assange, mas não outras organizações de notícias que também publicaram material classificado?

Em 19 de junho de 2014, organizações de direitos humanos e liberdade de imprensa enviaram uma carta ao procurador-geral Eric Holder pedindo-lhe para encerrar todas as investigações criminais contra Julian Assange devido a preocupações de que “as ações contra o WikiLeaks minam o compromisso do governo dos EUA com a liberdade de expressão”.

De acordo com a organização, o WikiLeaks sozinho já publicou mais de 10 milhões de documentos, análises e imagens, permitindo que o público tenha acesso a fatos sigilosos sobre questões que envolvam governo e autoridades políticas. Graças ao apoio de diversas entidades, veículos de comunicação e do público, a organização se manteve forte e resistente a todas as tentativas de censura que sofreu ao longo dos anos.

Na estante de estatuetas, o WikiLeaks e seus membros colecionam os mais importantes prêmios ao redor do mundo, como o The Economist New Media Award (2008), The Martha Gellhorn Prize for Journalism (2011), The Voltaire Award for Free Speech (2011) e o The Brazilian Press Association Human Rights Award (2013). Além disso, Julian Assange, que está hoje aguardando resultado do apelo de extradição, também recebeu indicações para o Prêmio Mandela, da ONU, e para o Prêmio Nobel da Paz.

Contribuições para o Jornalismo

Quando as divulgações do WikiLeaks explodiram na imprensa, em 2010, causou um impacto na diplomacia internacional, na percepção das guerras e no sigilo informacional. Talvez, por menos percebido que seja, impactaram o jornalismo.

Entretanto, o WikiLeaks não inventou o jornalismo de dados. Mas deu às redações uma razão para adotar os mecanismos de coleta e análise de dados. Havia uma quantidade meteórica de dados para que isso acontecesse de outra maneira.

Como dito pelo jornalista australiano John Pilger, Assange “expôs os segredos e mentiras que levaram à invasão do Iraque, Síria e Iêmen, o papel homicida do Pentágono em uma dúzia de países, o plano para as duas décadas catastróficas no Afeganistão, as tentativas de Washington de derrubar governos eleitos, a conspiração entre adversários políticos declarados (Bush e Obama) para abafar uma investigação sobre tortura e os documentos do vazamento “Vault 7” sobre a campanha da CIA que tornava um telefone celular, ou mesmo um aparelho de TV, em ferramentas para espionagem

Em abril de 2010, o WikiLeaks publicou um vídeo originalmente de julho de 2007 que mostrava forças dos Estados Unidos atirando indiscriminadamente de um helicóptero apache em civis na capital iraquiana, Bagdá. Dois jornalistas da Reuters foram mortos, além de vários outros civis inocentes.

O vídeo, chamado de “Assassinato Colateral”, divulgado com a colaboração de veículos jornalísticos como El País, The Guardian e The New York Times, derrubou a afirmação do Departamento de Defesa estadunidense de que as pessoas mortas no incidente eram “terroristas” e causou constrangimento entre as forças ocupantes.  

Antes da divulgação do vídeo, o Wikileaks tinha publicado as Regras de Combate das Forças dos Estados Unidos no Iraque em 2007. As informações ajudaram a mídia independente a constatar que a maioria das operações realizadas pelas forças de ocupação ocorriam em total desconsideração às regras que as tropas deveriam seguir. Ainda assim, não houve julgamento.

Os Registros da Guerra do Afeganistão e do Iraque, publicados em 2010, expuseram em detalhes a tentativa de acobertar as atrocidades e violações dos direitos humanos cometidas pelos EUA e por outras forças internacionais contra civis inocentes. 

Como o WikiLeaks muitas vezes se dispôs a trabalhar com meios de comunicação tradicionais na forma como divulgava dados, encorajou as organizações de notícias a cooperar mais na busca de mais histórias. A investigação que deu luz ao “Panama Papers” de 2016, que revelou os paraísos fiscais em offshore de líderes políticos, mostrou o que é possível quando os jornalistas e organizações como WikiLeaks se unem.



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Publicada desde 15 de julho de 2020, sabiá é um espaço livre e seguro para debates entre a juventude, com o objetivo de democratizar o acesso à informação.